Livro 37: Josefina - Desejo, ambição, Napoleão - Kate Williamns

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Todos já ouvimos falar de Napoleão Bonaparte. O soldado corso,
baixinho, feio estressado e leonino (no pior que existe do signo) que conquistou a França (e grande parte da Europa) pós-revolução. Mas o que sabemos de sua esposa, Josefina? Nada. Ou apenas esse "título" que a muitas mulheres importantes é relegado - ela era mulher do imperador Napoleão.

Esse conhecimento raso sobre uma figura histórica feminina é mais do que instigante para mim. Por isso, assim que vi Josefina nas prateleiras da LeYa na Bienal, tive que trazê-lo para o blog!

JosePHYNA em sua coroação (o sorriso "misterioso" era graças aos dentinhos podres mesmo. Muito açúcar faz REALMENTE mal aos dentes, crianças!)
JosePHYNA em sua coroação (o sorriso "misterioso" era graças aos dentinhos podres mesmo. Muito açúcar faz REALMENTE mal aos dentes, crianças!)
Confesso: Biografias de mulheres poderosas estão entre minhas maiores preferências literárias.

Conhecer a fundo suas vidas, sua origem, ascensão, queda, suas emoções mais humanas (e até mesquinhas) é, para mim, uma reflexão poderosa: De que maneira, nas mais diferentes épocas, a figura feminina sobressai ao machismo.

E mais: como tantos nomes, que ficam à sombra masculina quando estudamos a História mundial, foram vitais para o desenrolar dos fatos.

Com Josefina esse prazer na descoberta foi ainda mais profundo. Kate Willians faz a gente ser a "jovem crioula da Martinica", viúva empobrecida da Revolução Francesa, amante e endividada, que se tornou imperatriz! Nós sofremos com ela, torcemos por ela!

Aqui cabe um parêntese para uma aquisição linguística: Quando peguei para olhar a capa do livro, fiquei me perguntando por que Josefina era chamada de 'Crioula', se era extremamente branca? Olha a minha ignorância kkkkk Crioula era o termo (pejorativo) usado pelos franceses para designar os nativos da Martinica.

Voltemos à história...

Desde as primeiras páginas, a vida de Marie Josèphe Rose Tascher de la Pagerie  é contada de maneira a contextualizar com o momento histórico vivido pela França. Porém, diferente de suas antecessoras no 'trono' francês, o destino não parecia muito promissor para a jovem nascida numa ilha, de família empobrecida, abandonada pelo marido aristocrata (e grandessíssimo filho da puta!).

Você vai pensar... que saco de leitura, hein? JAMÉ, kiridos!

A protagonista pode até ser uma boboca, esquisitinha, canceriana chorona no começo, profundamente humilhada pelo esposo que foi seu primeiro amor...

Deveria existir Facebook no séc. XVIII para a Josefina aprender a não se iludir kkkkkk
Deveria existir Facebook no séc. XVIII para a Josefina aprender a não se iludir kkkkkk


Maaaaas depois que ela tem seus filhos - Hortense e Eugene - vai presa durante o período do Terror da Revolução Francesa, fica viúva e quase perde a cabeça na Guilhotina, é que a história começa a ficar boa...

Assim que Robespierre morre no lindo e magnânimo dia 28 de julho de 1794,
(...) Josefina sobrevive ao cativeiro e emerge como figura central de um universo de festas profundamente mundanas. Inebriante, promíscua e encantadora, dominou os jornais e surpreendeu o mundo ao encorajar os avanços de um soldado corso e marginalizado, seis anos mais novo do que ela. Josefina foi a famosa anfitriã e exímia diplomata, a consorte perfeita para o ambicioso Napoleão que se tornou Imperador Supremo.

Enquanto seu romance com Napoleão evoluía, nossa protagonista usou de toda a sua recém-adquirida condição de "queridinha da revolução" para conseguir absolutamente TUDO que desejava  - riquezas, prestígio, favores, politicagens...

Se quer saber, a inteligência militar de Bonaparte não seria NADA sem a sutileza das conquistas internas de Josefina. Era ela quem "assoprava" quando ele "mordia".

Enquanto o leonino conquistava vitórias nas batalhas, pilhava, invadia e exercia sua autoridade de maneira quase ditatorial,a canceriana recepcionava com maestria as autoridades, adulava, presenteava, convencia...

E esse é um dos pontos mais interessantes do livro: o relacionamento entre o Imperador e a primeira Imperatriz.

Ele era maluco de pedra. Workaholic. E ela era a ÚNICA pessoa que o entendia de verdade (e aceitava).
Ele era maluco de pedra. Workaholic. E ela era a ÚNICA pessoa que o entendia de verdade (e aceitava). 

O conquistador temido era, pelo que eu entendi, quase um insano! Leonino até o último dos poucos cabelos que tinha, Napoleão primeiro idolatrou Josefina, até conquistá-la. Em sua campanha pelo Egito ele escrevia cartas cheias de arroubos apaixonadérrimos. Uma melação só. E ela nem aí.

Mesmo assim ele ordenava que ela lhe escrevesse! hahaha bem tipo essa cartinha aí de cima.
Mesmo assim ele ordenava que ela lhe escrevesse! hahaha bem tipo essa cartinha aí de cima.


Na sequência eles acabam se entendendo, em um casamento "entre tapas e beijos" onde ele tinha rompantes de fúria e ela chorava implorando para fazer as pazes.

Josefina comprava tudo que via pela frente, uma exemplar mecenas, apaixonada por botânica, "Delírios de Consumo de Becky Bloom" TOTAL! Isso sem contar que tinha alguns amantes. Somadas as duas coisas, só restava a ela chorar desesperada suplicando o perdão do marido (e que ele pagasse a conta, claro!)

Até mesmo com o marido, ela adulava, chorava, se descabelava. E sempre conseguia que suas vontades fossem atendidas. Ahhh canceriana fdp! kkkk
Até mesmo com o marido, ela adulava, chorava, se descabelava. E sempre conseguia que suas vontades fossem atendidas. Ahhh canceriana fdp! kkkk


Por outro lado, Napoleão era masoquista. Gostava de ver a esposa às lágrimas em demonstrações que, para ele, significavam total submissão. HA! Como se a gente não estivesse careca de saber que muitas mulheres (até hoje, no caso) usam desse ar de "fragilidade" para exercer poder através dos homens.

Enquanto eles se julgam poderosos são, na verdade, marionetes.

Durante ANOS o casal se desentendeu e se entendeu - para ódio profundo de toda a família Bonaparte - enquanto a carreira militar e política de Napoleão decolava. Aliás... ele mesmo acreditava que Josefina era sua estrela da sorte.

Porém, à medida que o Imperador francês ficava cada vez mais famoso e poderoso, a obsessão por um herdeiro também foi crescendo. E a coleção de amantes mais ainda.

Foi aí que virou o jogo... Ele rodeado de mulheres e ela louca para ter sua atenção.
Foi aí que virou o jogo... Ele rodeado de mulheres e ela louca para ter sua atenção.

Estéril graças aos seu tempo insalubre na prisão, e aos métodos contraceptivos que usou enquanto foi amante do General Barras, Josefina era incapaz de conceber o tão sonhado filho. E isso quase custou sua coroação.

Mas é aí que o livro todo vale a pena! A jogada LYNDA que ela prepara para garantir o título de imperatriz e sambar na cara dazinimiga dá orgulho! Apesar de seu divórcio e queda posterior, seguidos pela derrocada de Napoleão e do império em si, a inteligência e até mesmo a falta de escrúpulos dessa mulher fazem a gente compreender (e em certo ponto admirar) os recursos de sobrevivência e escalada sócio-política da mulher em um mundo essencialmente masculino.

Coroação de Napoleão e Josefina - Jacques Louis David. Mostra lindamente o teor do livro (e dos personagens): Napoleão, como bom leonino, organiza milimetricamente a cerimônia, está mais chamativo que um pavão e, na hora H, pega a coroa das mãos do Papa e coloca na própria cabeça ( tipo: "foda-se! Sou eu que mando nessa merda toda!"). Em seguida ele coroa uma Josefina que, como boa canceriana, ajoelha-se demonstrando uma submissão que está LOOOONGE de ser verdadeira hahaha Ela chora e ganha ele, minha gente! Ali atrás tem Letizia Bonaparte (mãe do imperador) e o restante da família, muito putos de suas vidas tendo que bater palminha para a cunhada/nora que eles ODIAVAM!
Coroação de Napoleão e Josefina - Jacques Louis David. Mostra lindamente o teor do livro (e dos personagens): Napoleão, como bom leonino, organiza milimetricamente a cerimônia, está mais chamativo que um pavão e, na hora H, pega a coroa das mãos do Papa e coloca na própria cabeça ( tipo: "foda-se! Sou eu que mando nessa merda toda!"). Em seguida ele coroa uma Josefina que, como boa canceriana, ajoelha-se demonstrando uma submissão que está LOOOONGE de ser verdadeira hahaha Ela chora e ganha ele, minha gente! Ali atrás tem Letizia Bonaparte (mãe do imperador) e o restante da família, muito putos de suas vidas tendo que bater palminha para a cunhada/nora que eles ODIAVAM! E o Papa ali, coitado... totalmente ignorado. kkkk

Obra de mestre, Josefina! Indico DE-MAIS!

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